Sou Afranio do Amaral.
Na sua primeira função, a escrita é para mim uma catarse, um exercício de respiração lenta e profunda, uma obra de teatro sem actor, sem cenário, sem público e sem final, podendo ser, nalgum momento, o seu contrario, ou seja, um espectáculo no que se mostra a mesma vida a fluir pelas veias dum actor, o que escreve, embora ela sempre viva fora da escrita e do corpo de quem a procura escrever. Foi Pier Luigi Pirandello o que diz: " A vida, ou se vive ou se escreve ", frase que havía num caderno que alguém me ofereceu para escrever nele, curiosa perversidade.
Eu escrevo perseguindo a vida ao mesmo tempo que a vida se escapa de mim, eu escrevo procurando a vida, a única coisa que sei que nunca vou perder, escrevo nessa fuga. Eu escreverei sempre, ate o dia em que, totalmente vivo, morra.
Foram os meus escritos, as minhas palavras, num tempo anterior, uma brincadeira. Escrever tornara-se numa espécie de terapia de sedução, um jogo no qual o valor intrínseco do escrito não passava do valor dum bom poema (quando o poema era bom), algo duma pobreza de rés-do-chão, quase de réptil.
No entanto, algumas das minhas palavras levavam dentro de si a essência de mim próprio, algumas foram escritas para existirem em mim como eu mesmo.
Depois o mundo mudou, e eu com ele. Abandonei aquelas praias abandonadas e morri, renasci e voltei-me para a escrita como aprendizagem do meu próprio caminho, para morrer e voltar a nascer. Mais de mil poemas foram o preço a pagar, embora alguns ficassem na minha gaveta para não me esquecer de esquecer, os outros formam parte já daquela morte.
Foi nesta fase que veio a mim Afranio do Amaral, influenciado por um guardador de rebanhos e por um fugido, que adoptou esta personalidade dum cientista brasileiro morto (por acaso especialista em répteis) para caminhar pelos montes fronteiriços entre a Galiza e Portugal e assim sobreviver.
Afranio in-existe, mais é verdadeiro como a natureza. Ele procura sentir as coisas, sejam pedras, árvores, rios ou sentimentos com um sentido real.
Afranio sente que chove sobre ele como se ele fosse a terra, mas só passa por ela, ou talvez nem isso. Afranio, pobre homem sem destino, com princípio e sem fim.
Afranio é eu e também não, porque nem eu próprio sei ainda quem sou, de facto, não sei muito bem qual dos dois escreve estas palavras.
® Afranio do Amaral ?
Na sua primeira função, a escrita é para mim uma catarse, um exercício de respiração lenta e profunda, uma obra de teatro sem actor, sem cenário, sem público e sem final, podendo ser, nalgum momento, o seu contrario, ou seja, um espectáculo no que se mostra a mesma vida a fluir pelas veias dum actor, o que escreve, embora ela sempre viva fora da escrita e do corpo de quem a procura escrever. Foi Pier Luigi Pirandello o que diz: " A vida, ou se vive ou se escreve ", frase que havía num caderno que alguém me ofereceu para escrever nele, curiosa perversidade.
Eu escrevo perseguindo a vida ao mesmo tempo que a vida se escapa de mim, eu escrevo procurando a vida, a única coisa que sei que nunca vou perder, escrevo nessa fuga. Eu escreverei sempre, ate o dia em que, totalmente vivo, morra.
Foram os meus escritos, as minhas palavras, num tempo anterior, uma brincadeira. Escrever tornara-se numa espécie de terapia de sedução, um jogo no qual o valor intrínseco do escrito não passava do valor dum bom poema (quando o poema era bom), algo duma pobreza de rés-do-chão, quase de réptil.
No entanto, algumas das minhas palavras levavam dentro de si a essência de mim próprio, algumas foram escritas para existirem em mim como eu mesmo.
Depois o mundo mudou, e eu com ele. Abandonei aquelas praias abandonadas e morri, renasci e voltei-me para a escrita como aprendizagem do meu próprio caminho, para morrer e voltar a nascer. Mais de mil poemas foram o preço a pagar, embora alguns ficassem na minha gaveta para não me esquecer de esquecer, os outros formam parte já daquela morte.
Foi nesta fase que veio a mim Afranio do Amaral, influenciado por um guardador de rebanhos e por um fugido, que adoptou esta personalidade dum cientista brasileiro morto (por acaso especialista em répteis) para caminhar pelos montes fronteiriços entre a Galiza e Portugal e assim sobreviver.
Afranio in-existe, mais é verdadeiro como a natureza. Ele procura sentir as coisas, sejam pedras, árvores, rios ou sentimentos com um sentido real.
Afranio sente que chove sobre ele como se ele fosse a terra, mas só passa por ela, ou talvez nem isso. Afranio, pobre homem sem destino, com princípio e sem fim.
Afranio é eu e também não, porque nem eu próprio sei ainda quem sou, de facto, não sei muito bem qual dos dois escreve estas palavras.
® Afranio do Amaral ?
1 comentário:
se os dois partilho
em partes
si >< go
~
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