Afranio olhou espantado para as árvores da quinta.
Tinha o jardim laranjeiras, magnolios, camélias…
mais acima de todos eles,
dois troncos cheios de braços procuravam altura,
uma altura desde a que poder ver além do que se via.
As árvores buscavam sua terra pelo ar,
porque aquelas árvores não eram dali,
foram exilados de seu mundo,
dum mundo de poetas e sangue,
transportados através do mar
para ser uma lembrança de eles mesmos.
Ao redor daquelas figuras,
o chão estava cheio de pinhões,
seu fruto deitado na terra,
aguardando ser alimento,
eles que deram nome a um povo.
Afranio lembrouse da raça
e voltou a um tempo perdido no tempo,
florestas selvagens nas quais a água era livre,
vulcões de neves eternas
advertindo ao vento que ainda vivem
com a sua fumarola blanca e densa,
lagos de nomes que cantavam…
Então misturou-se tudo nele,
o seu sentimento de origem,
a origem inventada dele mesmo,
a realidade na qual via as árvores
e as rugas de suas mãos,
onde tanto se sentia Afranio um Caupolicán
e a casca duma araucaria.
Ele,
um homem preso de sua idade
e livre para amar a quem,
ao seu lado,
dava-lhe nome e alimento,
como uma árvore plantado na sua terra.
1 comentário:
quando morrer quero ser árvore
quero ser das cinzas
a fertilidade
quando eu viver quero das tuas origens a liberdade o aqui todo
inexplicado
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