quarta-feira, 25 de novembro de 2009


















Afranio sabe que no nome que não tem
cabem todas as letras do seu nome,
como cabe o rio de sua aldeia no seu leito.



No tempo no qual a chuva
com seu monótono som nos telhados
adormece e acorda aos aldeães,
o rio acostuma a desbordar-se,
mas ainda assim cabe o rio na terra
e sempre volta a seu leito a água.



Quando sente de mas
e o sentir lhe bate insistentemente a alma,
como chuva no telhado,
a Afranio se lhe transborda o nome
e com todas as suas letras estendidas sobre a terra,
acha transformar-se em uma espécie de poeta.



Mas sempre volta a seu leito seu nome
e ele volta a respirar-se como um filho morto,
algo que nem ele mesmo entende,
e regressa a habita-lo sua própria inexistência.



Ele sabe que a sua vida é assim,
como sabe que a sua vida não é,
como sabe que ninguém sabe
a onde vai o rio da sua aldeia.





Afranio sente tudo isto,
enquanto adormece na sua cama,
escutando a chuva no telhado.








11 comentários:

Carlos Manuel Ribeiro disse...

E eu sou PEDAÇOS DE TEMPO, daqui e dali, fotografados com paixão e escritos com o coração!

Cumprimentos,
CR/de

observatory disse...

va fugindo...

observatory disse...

va fugindo...

vieira calado disse...

Obrigado, amigo,

pela visita ao meu blog.

Um abraço

Alberto Oliveira disse...

... uns vão clamando que fuga é de cobarde.
Não entendo, porque quando ando fugido ao pelotão de ciclistas meus adversários, as pessoas me aplaudem ao longo dos quilómetros.
Mas gostava de conseguir fugir de mim: mais do que ganhar a Vuelta a España ou o Tour de France...

o Reverso disse...

é sempre bom o que é diferente.

nesta casa há diferença...

Arábica disse...

Não foge, nem pensa que foge,
pois que cada vez
que escreve
é a si que encontra...
Finge que foge,
como quem finge
que foge.

f@ disse...

Deambular nas palavras...

Obrigada pela visita...

Gostei imenso deste espaço...

mto criativo...

se me dá licença vou linkar nos meus blogs...

beijo

Chousa da Alcandra disse...

Obrigado pela visita á Chousa.
Apertas fraternas dende estoutro lado da raia.

Duarte disse...

INCÓGNITA

Não sei o que sou
Nem o que posso chegar a ser
Só sei que aqui estou
Melancólico e triste
Olhando para o que não existe
Pensando no que não pode ser

Primavera de 1966

Obrigado pela visita.

Respeitosos cumprimentos

silvia zappia disse...

a veces
hay que
irse*
para que
ya no
duela*
para poder
volver*
para poder
ser
casa
y
c
a
m
i
n
o*

besos,escuchando la lluvia en el techo*