
Afranio pensa que ser poeta não é uma ambição,
nem tem medida no tempo,
nem sequer é evidente.
Ele diz que os poetas são um espaço infinito
e nos olhamos para eles assombrados,
como se eles fossem conscientes de sua importância.
Não o são, não,
são in-coscientes de se mesmos
e nem morrendo morrem,
porque se passam a vida morrendo.
Assim, Afranio sente que são como uma nebulosa,
tanto como porque é nelas onde nascem as estrelas,
como porque seu contorno é indefinivel,
sente que a sua importância trespassa também nossa consciência
e não podemos saber deles o que dizemos,
e mentimos quando os nomeamos poetas.
Ele diz que os poetas nunca se vão,
nunca voltam,
nunca estão,
mas ele acredita na sua importância.
Afranio sente e diz tudo isto,
enquanto observa a lua no céu,
ensimesmado.
enquanto observa a lua no céu,
ensimesmado.
3 comentários:
poeta.é.alto,
(lua-que-espanta-sol
mais.alta-
-ainda,,,
~
Sou um homem vazio
diz o poeta
sou um homem antes do homem.
A minha ferida é uma página
do deserto.
O meu canto eleva-se
entre as mandíbulas da morte.
O que eu amo sobretudo
é a simplicidade de um solo
que não possuo.
O que eu espero é o improvável elemento
que aglutine os despojos do silêncio
e lhes dê um rosto
maravilhosamente tranquilo.
O que eu desejo
vem depois de toda a esperança
e vai para o zero inaugural
como uma sílaba de silêncio ou de água.
Sou um construtor de gritos no abismo
uma bandeira de lava e de granito
e sou a vara que o vento inclina
com uma colmeia de abelhas anelantes.
Procuro o vigor pulmonar
dos grandes caminhantes do deserto
e escrevo sobre o muro que a dor constrói
com a fúria subterrânea de um felino.
Como um girassol de aluvião
as minhas palavras embrulham-se nas ondas
e na vertigem verde do seu ritmo.
Se às vezes cintilam com o brilho poderoso
da água mais profunda
é porque a sombra as alimenta
é porque o desejo as levanta.
António Ramos Rosa
é.porque
.amar.ser.
in.finito,,,,:)
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