Afranio foge porque procura o sentido da vida,

sabe que o sentido da vida está na procura,
que nunca o encontrará por muito que aprenda,
que o procurará eternamente mesmo que ele saiba onde está
e que uma resposta é sempre o final de uma pergunta.


Por tanto, Afranio foge cada vez que reconhece
ter encontrado uma parte de sentido à vida,
cada vez que obtém uma resposta,
cada vez que chega em um destino,
cada vez que percebe algo.


Fai isso porque acha que, nesse fugir,
está a única resurecçao possível,
a última possibilidade que tem o homem
de encontrar-se a si mesmo pra poder entregar-se,
mesmo que isso lhe doa tanto.


Ele não entende muito bem isso,
não percebe quase nada de quase nada,
mal o vê,
mas tem fe no por vir,
naquilo que procura,
por isso morre e renasce para fugir.


Quase poderia dizer-se que Afranio ama o saber,
que é, em parte, um filósofo,
mas o Afranio não estudou nada,
somente lê o que vê e o que não vê,
nada do escrito está ao seu alcance.


Afranio pensa tudo isto enquanto,
sentado sobre uma pedra de sua natureza,
olha passar o vento que passa.