
Afranio sente o seu corpo leve
e a alma pesada como uma pedra.
Ele pensa em Deus como algo inexistente
e não entende muito bem isso,
não se explica como se pode pensar em algo que não é
e não percebe que alguém que não é possa pensar,
como lhe aconteçe a ele.
E é que Afranio,
apesar de não saber das coisas profundas,
sabe que há de pensar nelas,
embora não sejan.
Também sente a levidade da terra,
sua flotabilidade, sua leviandade.
Sabe que o mundo está no ar,
que ele tem os anos contados
e pede (não sabe a quem)
que a terra seja leve com ele.
Quando caminha pelo monte
e se detém a observar o céu,
pergunta-se por que os pássaros não caen sobre a terra,
porque apesares de saber que a terra está voando,
também sente uma força que o atrai ao châo,
algo que o amarra às coisas sobre as que caminha
e não sabe se os pássaros sentirão algo similar,
condenados a voar, como ele,
inexplicavelmente.
Afranio sabe que não ama,
o sabe porque amou,
porque teve essa sensação de viajar pelo ar
que ele acha há de ter a terra.
Estranha isso sobre todas as coisas
e o relaciona com sua pesada alma;
Só uma alma leve pode amar,
descarregada de lastros e obrigações.
Afranio não sabe como existir
e foge pensando que assim,
quando chegue a hora de pousar-se,
terá respirado o ar suficiente
como para poder viver na terra,
sobre a qual caminha e voa.
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