
A neve chegou a aldeia de Afranio,
como todos os invernos.
como todos os invernos.
Saiu pela manha, muito cedo, com as suas ovelhas,
como era a sua costume,
pelos caminhos escondidos pelos brancos flocos
que ainda não foram pisados por pegadas nenhumas.
No entanto, quando levava caminhadas já muitas palavras
das que ele vai ruminando a cada passo que avança,
descobriu entre as pegadas das ovelhas que lhe precediam
as duma pessoa, pegadas de alguém como ele,
com a mesma forma, tamanho e desenho.
Afranio ficou surpreendido daquilo,
porque as pegadas nasciam ali,
no meio do caminho escondido pela neve
e não vinham de nenhum lugar,
coisa muito impossível, pensou ele.
Avançou ate diante do rebanho
e comprovou ao segui-las que as pegadas continuavam
alem do campo que ele tinha disposto pastorear nesse dia.
Afranio continuou o rastro com as suas ovelhas atrás.
Ao virar numa curva do caminho,
viu ao longe uma figura de pé,
no meio dum campo que era-lhe familiar,
a beira dum sobreiro que ele sentia conhecia.
Era claramente um homem,
claramente também um pastor,
claramente da sua estatura
e estava claramente de costas.
Avançou em direcção a figura
e quando já estava perto,
o homem começou a caminhar
separando-se dele, sem virar-se nem olha-lo.
Afranio chamou por ele,
como não sabia quem era gritou: Escuta!
O homem deteve-se,
Afranio também,
a figura começou a virar a sua cabeça devagarinho,
e antes que Afranio chegasse a ver a sua face,
esvaeceu-se no meio do branco da neve,
assim como todas as suas pegadas.
Nesse momento Afranio acordou,
estava na sua cama,
tudo tinha sido um sonho.
Ergueu-se,
fez as suas tarefas de cada manha antes de sair,
abriu a cancela do estábulo das ovelhas
e começou a caminhar as suas palavras
ate o campo que tinha previsto pastorear esse dia.
A neve estava limpa e imaculada.
Só então Afranio reparou no assunto da relva,
em como iam pastar as ovelhas si a neve tinha coberto tudo.
Ficou aflito por não ter pensado nisso antes,
coisa muito estúpida não o ter feito.
Lembrou-se dum campo que tinha o seu pai,
um campo no qual havia um grande sobreiro,
uma arvore imensa que provavelmente tinha deixado
uma grande parte da relva a resguardo da neve ao seu pé.
Foi ate ali com as ovelhas,
comprovou que sim, que havia pasto suficiente
e deixou os animais a sua vontade.
Tinha pensado sentar no muro do campo,
escrever alguma coisa,
comer alguma outra,
passar assim o dia.
Mais quando estava a caminhar para o muro,
viu as mesmas pegadas que tinha visto no sonho
que dirigiam-se ate o tronco do sobreiro.
Seguiu-as,
morriam ali.
Então Afranio lembrou-se,
lembrou-se do seu pai a fazer aquela inscrição no tronco do sobreiro,
muitos anos antes,
com a mesma faca com a qual cortava o queixo que lhe dava a ele para almoçar
e que agora era a sua própria faca:
"Afranio, meu filho, acredita sempre nos sonhos, mais puxa por eles"
1 comentário:
as-sim, tal e qual,
) puxar sendo
es-sencial,,,
*
Enviar um comentário