
Afranio passava o tempo entretido
em tirar lascas da madeira
dum ramo de arvore com a sua faca.
Todos os anos,
quando chegavam a neve e o frio,
no mês de Dezembro,
Afranio fazia o mesmo.
Durante dias procurava entre sobreiros,
oliveiras, carrasqueiros, aveleiras, azinheiras…
um ramo apropriado,
um pedaço de madeira que tivesse dentro
aquilo que ele havia de tirar para fora.
Seleccionava o mais adequado
e deixava-o secar perto do lume,
durante três dias,
ate que estivesse suficientemente duro.
Este ano tinha escolhido um ramo
dum velho azevinho que vivia perto do rio,
viu o ramo e de seguida soube que era aquele.
Afranio trabalhava a madeira duma maneira
quase inconsciente, quase mecânica.
Ele não pensava muito no que fazia,
saia-lhe assim,
mais devagarinho aquele ramo,
ia desfazendo-se da sua pele
e ia aparecendo aquela figura,
diferente cada ano.
Afranio tinha descoberto desta maneira
pastores, mulheres lavando no rio,
patos, galinhas, vacas, ovelhas,
homens a cavalo, peregrinos,
e um ano ate um menino quase nu.
Afranio talhava aquela figuras com delicadeza,
com uma estranha delicadeza para um guardador de rebanhos,
em tirar lascas da madeira
dum ramo de arvore com a sua faca.
Todos os anos,
quando chegavam a neve e o frio,
no mês de Dezembro,
Afranio fazia o mesmo.
Durante dias procurava entre sobreiros,
oliveiras, carrasqueiros, aveleiras, azinheiras…
um ramo apropriado,
um pedaço de madeira que tivesse dentro
aquilo que ele havia de tirar para fora.
Seleccionava o mais adequado
e deixava-o secar perto do lume,
durante três dias,
ate que estivesse suficientemente duro.
Este ano tinha escolhido um ramo
dum velho azevinho que vivia perto do rio,
viu o ramo e de seguida soube que era aquele.
Afranio trabalhava a madeira duma maneira
quase inconsciente, quase mecânica.
Ele não pensava muito no que fazia,
saia-lhe assim,
mais devagarinho aquele ramo,
ia desfazendo-se da sua pele
e ia aparecendo aquela figura,
diferente cada ano.
Afranio tinha descoberto desta maneira
pastores, mulheres lavando no rio,
patos, galinhas, vacas, ovelhas,
homens a cavalo, peregrinos,
e um ano ate um menino quase nu.
Afranio talhava aquela figuras com delicadeza,
com uma estranha delicadeza para um guardador de rebanhos,
como ele era.
Quando rematava o trabalho,
embrulhava aquela aparição numa folha de couve,
atava-a com um fio feito de lá de ovelha
e deixava acima da mesa.
Depois caminhava seis quilómetros ate a aldeia grande
e na loja de comestíveis recolhia um Bolo de Rei pequenino
que ele mesmo tinha mandado fazer previamente.
Pegava no bolo,
voltava os seis quilómetros ate a sua casa,
apanhava o embrulho de folha de couve e,
com todo isso,
caminhava outros oito quilómetros,
ate a aldeia onde morava a sua sobrinha miúda,
Maria Adelaida.
Deixava o bolo e o embrulho a porta da casa,
batia nela,
e voltava a sua casa de novo,
canso de tanto caminhar,
de tanta lasca tirada,
de tanto trabalho que precisava para pagar o bolo,
mais com a mesma expressão de felicidade que,
agachado trás um muro de pedra,
fronte a entrada da casa da sua sobrinha,
antes de regressar de tudo a sua própria vida,
ele via na menina ao abrir a porta
e encontrar ali a sua figura do presépio e o seu Bolo de Rei,
como todos os anos,
sonhando com o duende do bosque amigo
que ela sabia era seu tio Afranio.
Quando rematava o trabalho,
embrulhava aquela aparição numa folha de couve,
atava-a com um fio feito de lá de ovelha
e deixava acima da mesa.
Depois caminhava seis quilómetros ate a aldeia grande
e na loja de comestíveis recolhia um Bolo de Rei pequenino
que ele mesmo tinha mandado fazer previamente.
Pegava no bolo,
voltava os seis quilómetros ate a sua casa,
apanhava o embrulho de folha de couve e,
com todo isso,
caminhava outros oito quilómetros,
ate a aldeia onde morava a sua sobrinha miúda,
Maria Adelaida.
Deixava o bolo e o embrulho a porta da casa,
batia nela,
e voltava a sua casa de novo,
canso de tanto caminhar,
de tanta lasca tirada,
de tanto trabalho que precisava para pagar o bolo,
mais com a mesma expressão de felicidade que,
agachado trás um muro de pedra,
fronte a entrada da casa da sua sobrinha,
antes de regressar de tudo a sua própria vida,
ele via na menina ao abrir a porta
e encontrar ali a sua figura do presépio e o seu Bolo de Rei,
como todos os anos,
sonhando com o duende do bosque amigo
que ela sabia era seu tio Afranio.
Afranio sentia todo isto,
na sua casa,
queimando lascas de azevinho na lareira.
na sua casa,
queimando lascas de azevinho na lareira.
1 comentário:
o que me ocorre
é o cheiro
da lareira
o cheiro de-composto
dos pequenos paus
a crepitar
na alma da afrânio
foguinhos pequenos
e outros com-colo,
onde quero adormecer
acalentada
entre panos de lã de ovelha
de madrugada,
~
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