sexta-feira, 23 de abril de 2010



















Para ÁNGEL GONZÁLEZ


Para que eu me chame Afranio do Amaral,
para que meu ser não pese sobre o solo,
foi necessário um estreito espaço
e um curto tempo.
Nem homens, nem mar, nem terra,
nem férteis mulheres, nem corpos
que somente fundam outros corpos.
Sombras e escuridões iluminaram,
com sua única luz, seu céu preto,
a viagem instantâneo deste espírito,
trepando-me a alma ossos adentro.
De seu ficar lento e doloroso,
de seu vir até o início, sobrevivendo
à carne, aferrando-se ao que calam os mortos,
eu não sou mas que outra incerteza,
a semente que não cresce, perdido,
entre os restos,
isto que não vêem aqui,
tão só isto:
um entulho, que não se resiste
a sua ruína, que voa fora do vento,
que avança por caminhos que não existem
em nenhum lugar.
O fracasso de todos os sucessos.
A enlouquecida força do desalento.







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