quinta-feira, 11 de março de 2010





















Fumo palavras ao longo do dia,
perto de dois maços
e sei que fumar mata.

Também bebo muitas palavras,
se calhar repetidas
e sei que beber com moderação
é a minha responsabilidade.

Sou pré diabético
e não posso comer palavras doces,
mais alguma também cai as vezes.

Os cafés entram em mim
cheios de palavras com adoçante.

Falo também palavras,
ossos do corpo,
sangue menstrual,
pele defensiva.

Falo-as como as falo ao escrevê-las,
e escrevo-as como se as falasse,
falo nelas como eu,
existem em mim para ser.

Assim,
sou todos os aviões e o aeroporto ao que chegam,
para depois partir de mim,
levando-me.

E no fim do dia pergunto-me
Qual é o meu grande pecado?
e respondo-me que nenhum,
que eu sou apenas um,
o que eu sei que sou.

E adormeço em meio de sombras e claridades,
amando-me,
amando-te,
falo,
símbolo da fecundidade da natureza,
já sem palavra nenhuma.







1 comentário:

há dias que desvoa disse...

vamo-nos vestindo de palavras manhã a manhã
há um corpo que as sorve - antipedra moinho tornado

somos de tarde a luz que não há [ a falsa e verdadeira claridade

ao cair da noite - sempre sem pecado
usamos o cerco do quintal para brincar [ e dormimos subindo

numa fidelidade nua ao princípio irrevogável do silêncio
fio a fio mão na mão [ cintura branca de via láctea