terça-feira, 23 de novembro de 2010


Tenho em mim um sorriso antigo

que me diz que a felicidade existe

para além de palavras e poemas.


Um sorriso que,

apesar de vir de longe,

não é estrangeiro,

nem é uma lembrança,

nem é a lembrança duma lembrança.


É um sorriso que se inventa novo,

cada vez que a felicidade

me ilumina para que o acenda

e ilumine com minha luz tuas escuridões.


É esta luz que vês aqui

esta que te dei tantas vezes

longe de palavras e poemas.


Arrependo-me de não ser a luz eterna,

Nunca de não ser a felicidade inventada.


Quando ponho os óculos de sol,

somente sinto o que tenho em mim

e não me calar não é pecado.


Embora de igual modo,

a cada dia que passa,

sou menos Ray-Ban,

mais amante do sol puro,

da luz que levo nos olhos,

e mais inconstante com a poesia.



Da fonte santa brota, eterna, a água da felicidade.


Sob todas as estrelas do céu da noite,

a menina vai adormecendo num sonho que vive,

enquanto vai vivendo num sonho dormido.


Imagina sombras,

imagina coisas que leu nos livros,

coisas que existem,

vive num país maravilhoso,

um país que outro chamou assim,

mas que ela descobre na vida que não se vê,

nos poços, nos sinos,

nas ervas do campo que o vento toca e remexe

em tudo o que a rodeia e sobre o que gira.


Ela não sabe nada que não seja o que sabe,

não sente nada que não seja o que sente

e não quer nada que não seja o que tem,

porque sabe que em tudo o que sente,

tem a felicidade,

essa que brota, eterna,

na água da fonte santa,

enquanto seu pai a abriga na noite,

acaricia-lhe o cabelo, a cara, os olhos, o coração

e conta-lhe todas as estrelas do céu,

uma a uma,

brilhantes, limpas e puras,

porque desde todas elas ele a contempla,

orgulhoso.


Mogadouro, 4 de Agosto de 2010




Puedo escribir de mí todo lo que de mí sé,
todo lo que de mí es mío,
todo aquello en lo que me reconozco.

Puedo escribirlo todo de ti,
todo lo que tú me dices, me das y me pides,
todo aquello que en ti reconozco.

Lo que no sé hacer,
es escribir lo que no puedo escribir,
escribirte como te quiero,
así,
libre de lo que escribo,
con el corazón en la mano,
sin saber decirlo ni explicarlo,
sin palabras,
sin ti en ellas
y sin este sentido de mí.


Tengo voluntad de gritar
y con la misma voluntad me callo.

Sé entonces que mi voluntad es callar,
callar como quién grita todo el silencio con miedo a interrumpirlo,
pero con la convicción de que hacerlo,
es la única manera de ser escuchado.

Y llegado a ese punto me pregunto:
¿Es más importante gritar que callar?
¿Es callar olvidar mi grito?

Y entonces me callo,
y entonces grito,
sin conocer las respuestas,
sin siquiera poder imaginarlas,
pero totalmente seguro de saberlas.

Inspirado en una escena de “El lado oscuro del corazón”
Un film de Eliseo Subiela.

Es hermoso ser ciego.

Vivir en esta oscuridad que
sólo te adivina y te presiente.

Buscarte toda,
palparte toda,
esperarte para no volver a verte.

Presagiar tu rostro y tus ojos con los míos,
estos que no tienen más luz que la tuya.

Y en esta ceguera de tu luz
no veo más que colores:
Blancos, amarillos, rojos, verdes…
son la magia de mi noche.

Y se me llena la oscuridad de dedos con los que,
poco a poco, voy tanteando la vida,
ciego de ti,
advirtiendo al tocarte que avanzo
hacia un brillo infinito.

¡¡Oh Dios!!
¡¡Que luminoso este amor que me das!!
¡¡Que hermoso es ser ciego!!

Tengo el alma toda perdida,
mi cuerpo entero está extraviado,
la luz de mis ojos duerme dormida
y siento el corazón equivocado.

Todo lo que tengo es este poema,
esta forma de decir que nada tengo
y la vida se me vuelve una condena,
la poesía un disfraz de esta gran pena,
y no sé a dónde voy, de dónde vengo.



A quem pergunte direi

que este poema não se explica

que nada se explica na poesia,

mesmo que possa ter muitas explicações.


É como todos os sentimentos inexplicáveis que se sentem sem sentido,

para além de sociólogos,

psicólogos e psiquiatras,

para lá da compreensão humana.


É como o teu corpo nu,

que me leva ao inexplicavelmente único,

àquilo que na poesia seria uma obra-prima.


A quem não me pergunte direi,

que não vou explicar a nudez do teu corpo,

porque como já disse,

nem este poema nem a poesia se explica.





Penso em VOLAR, VOAR, BO AR...


Est-ar no ar,

fal-ar-me a mim mes-mo de mim,

sub-ir ao ar gir-ando,

per-correr a lib-erdade,

dizê-la,

calá-la,

conhecer seu che-ir-o,

sua a-dição

e a escra-vidã-o de perdê-la.


Ver más allá que a lo lejos,

más alto que arriba,

creer que tengo fe,

que se me caigan las palabras al suelo:


VOLAR, VOAR, BO AR...


( Ver mais longe que o longe

mais alto que acima,

acreditar que tenho fé,

que me caiam as palavras ao chão.)





Leio a Deus em teus olhos cheios de palavras de luz,

escrevo as palavras que dizem teus olhos,

palavras cheias da luz das tuas mãos,

através das quais vês tudo o que não se vê

com o olhar preto que o deus que não fala te deu.


Volta a passar ao meu lado a cegueira,

volto a ver a escuridão,

mas nela,

hoje,

voa a insustentável leveza da respiração dos pássaros,

sua impossível explicação,

sua alegria indecifrável,

todas as cores das penas de suas asas,

cega que leio e lê por mim.




Mais uma vez morderam-me o coração,

o pouco que fica me,

aquele pelo que sei que vivo,

meu pobre coração errado.


Mais uma vez,

a escuridão ilumina-me,

sangra-me o corpo palavras

e vejo por ti,

cega que a meu lado não sabes as cores das coisas,

que não vê o que vemos os que achamos ver e,

ainda assim,

segues teu caminho sabendo que o mundo é escuro,

tenebroso,

injusto,

difícil,

longo,

apagado,

monótono,

aborrecido,

real,

como se tu não fosses cega,

como se eu não tivesse um coração com o qual ver-te.




Se ainda não encontraste a tua voz,

se estás vivo e não sabes morrer na palavra,

se ainda não és capaz de erguer-te e projectar tua sombra,

não serei eu o que te substitua,

nem a minha voz será tua.


Não viverás em mim,

não te darei o que é teu,

o que te pertence:

tua dignidade e teu sentido.


Eu não tenho mais nada que o meu

e é suficiente para te ouvir

para te olhar tão vivo,

para abraçar tua sombra,

tão imensa como a que eu quero para mim.




“Ainda sob a influência de Antonio Lobo Antunes,

não das suas palavras”


A maior dificuldade da escrita

é ter que dizer com palavras aquilo que é anterior a elas,

o que o poeta ignora que a palavra possa significar.


Desta forma, tentar escrever,

transforma-se por vezes numa procura inútil,

deserta, erma e sem esperança de palavras

e acaba-se por sucumbir ao que nomeia as coisas,

ao escrito, às letras e signos que não significam nada.


Assim são todos os poemas,

insignificantes e cheios de teatro,

um exercício que sentimos necessário para viver,

algo assim como respirar e expulsar de novo o ar.


Entre a distância que existe desde a intimidade do sentido

até ao público palco do poema cheio de palavras,

está perdida a poesia mais verdadeira,

a mais autêntica,

a mais certa,

a que nunca ninguém escreverá,

a pátria de todos os poetas que não encontram palavras,

o Monte Parnaso com suas fabulosas vistas.




Há ums tempos, o meu irmao propôs uma revolução. Tenho que perguntar-lhe como é que vão as coisas.


"Proponho uma revolução. Sem alardes e quase sem gritos. Sem grandes movimentos de volumes. Será um gotejamento lento e contumaz; um sussurro todas as noites enquanto dormem. Proponho um boicote aos de gravata fosforescente, uma reeducação aos de camisas limpas e passadas a ferro.

O plano é aparentemente simples. Começarei eu mesmo. Conseguirei um trabalho de estacionar carros no melhor hotel da cidade. O desempenharei com eficácia e amabilidade. Cumprirei todos os dias as exigências do meu emprego com a maior das disciplinas e sem levantar suspeita alguma. Serei servil com o banqueiro encapado em meu ridículo fato de cores pirosas e boné de prato. Entregar-lhe-ei sua grande berlinda com celeridade e com um sorriso; nada poderá avisa-lo do que se vai desencadear. Um dia, quando procure seus óculos de sol no porta-luvas encontrarar-se-à com um poeminha de Rimbaud; o lerá; e já estará tudo em marcha.

Ele será o primeiro, mas haverá mais, pouco a pouco, em todos os autos.

Quando o advogado triunfador, seguro de si, desça o guarda-sol, lhe cairá voando devagarinho uma ode de Walt Withman.

Nos carros oficiais dos gerais ordenei primorosamente versos de Benedetti no depósito da água; quando lhe dêem ao limpa-vidros o pára-brisas começará a desenhar-lhes "Corpo Docente" ," Uma mulher nua no escuro" ou qualquer outra.

Em meu carro destrambelhado conectei os poemas de Cortázar às luzes de cruzamento e vou pelas noites deslumbrando aos demais com " Canada Dry" e tantas mais.

A um taxista que trouxe do aeroporto a um desenhista de moda lhe instalei nas luzes do tecto que marcam as diferentes tarifas uns poucos versos de Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis, para que vão mudando segundo lhe dê ao taxímetro.

Enchi um olho-d'água da bomba de gasolina do meu bairro com o Cântico Espiritual de São Juan De La Cruz, e agora, quem se assoma à janela, vê sair o misticismo dos canos de escape. Amanhã vou pintar as rodas do carro do presidente com Ángel González; o farei com pintura de água para que quando chova nos deixe as ruas perdidinhas de Angel.

Fica ainda tanto por fazer!

Será uma guerra sibilina e subtil contra Notários, um calhau no sapato dos jornalistas a cada dia; serão curto-circuitos nos semáforos. Com o tempo se irão empapando os políticos, terão os juízes remorsos, Nadal começará a tirá-las fora. Nas fotos dos radares aparecerá gente disfarçada de palhaço ou de Spiderman. O Papa desdobrará uma camisinha na intimidade de seu banho pensando: e se estiver certo? Os jogadores de futebol entrarão sorrindo nas bibliotecas. Os policiais se abraçaram entre eles (quando tirem o uniforme nós também nos deixaremos abraçar por eles). A África seguirá dançando. Será um jorro lento e imparável mudando nossa história."




Se dice que, cuando Miguel Hernández murió en la cárcel, no pudieron cerrarle los ojos. Quizás sus ojos necesitaban ver y veían mucho más allá de la muerte. Yo escribí este poema sintiendo sus ojos puestos en mí.


OJOS ABIERTOS

Yo no cerraré los ojos al morir,
los dejaré abiertos para mirarte,
como el poeta.

Y tú,
verás mis ojos abiertos
y sabrás que no me he ido,
que estoy todavía a tu lado
y que escribí un día estos versos
para seguir mirándote siempre.


“É outono i en min nace primaveira ¿Quen o entenderá?”

María Mariño



Mar é hoje a palavra
por onde todo o mar sobe,
por onde a vida começa e acaba.

Pelos cumes do Courel
vai todo o mar na palavra,
inundando a geografía,
cubrindo as eternas pedras,
devolvendo-te a mim.

Voltas nascer,
volta a primavera,
volta o mar
e ele é hoje a palavra
pela que tu me sobes, María,
ao mais alto.
É outono.
Quem tal entende?


A veces, me apiado de Dios,
lo creo a mi imagen y semejanza,
le regalo la vida.

Y lo veo volando sobre todas las cosas,
omnipresente, omnisciente, omnímodo y omnipotente.

Entonces Él es la fe,
su bondad es infinita,
su capacidad de amar inagotable
y su nombre se escucha en las oraciones
de las bocas de todos los hombres,
con toda la fuerza de las todas almas transparentes,
rotas y desamparadas.

Y en esa creación,
Dios escucha todas las plegarias
y la luz de la voz que va en su palabra,
la divina poesía,
ilumina todas las oscuridades,
alcanzando su misericordia todos los rincones.

Y en este milagro que sucede,
la sagrada escritura enseña al que no sabe,
corrige al que se equivoca,
perdona las injurias,
consuela al triste,
tolera los defectos del prójimo,
da de comer al hambriento,
de beber al sediento,
viste al desnudo,
cura a los enfermos,
redime al cautivo,
da cobijo al sin techo
y derrama la esperanza, la generosidad
y la alegría sobre la tierra.

Yo convierto a Dios en mí,
yo soy en Él,
la poesía es su mensaje
y esta crea un nuevo mundo.

A veces, me apiado de Dios,
me apiado de mi mismo
y escribo algún poema con el nombre de un Arcángel divino,
Rafael,
así me llaman,
con sus alas vuelo,
sintiéndome un hombre libre.


Dos rostos que já fui,
fica a sombra do que já não sou,
a memória oculta e enterrada duma morte viva,
as esquivas marcas do que chamei tempo.

Dos rostos que já fui,
ficam as nuvens no ar,
sua água sobre a terra,
a vide que cresceu com elas,
a uva,
e o vinho.

Dos rostos que já fui,
a bebedeira do meu passado,
a podridão de sua raiz,
meu esquecimento derramado sobre vós nestes versos,
abono fresco para que outros rostos
levem neles os rostos que já fui.


Soy virgen en todas mis derrotas,
de cada una renace un Yo invencible,
soy novato en todas mis victorias
y perder en cada una es muy posible.

Me caigo para levantarme de nuevo,
me levanto para volverme a caer,
vuelo al cielo como el ave fénix muerto,
gira la vida dentro y fuera de mi cuerpo
y gano el aire para volverlo a perder.

De todos los vientos que he volado,
aprendí a inscribirme en lo invisible
y de las tierras en las que he aterrizado,
con alma nueva siempre he despegado,
aunque volar parezca a veces imposible.


A Inés,
la vida le entró en la cabeza como una bala,
rápida,
de repente,
casi sin tiempo de reacción.

Se le quedó adentro,
dándole la felicidad,
la alegría de vivir,
de compartir su alegría,
la sonrisa,
la respiración
y la verdad de sus quince años.

Pero la bala también abrió una herida
y por ella todo lo que la vida le dio quiere escaparse,
dejarla vacía,
olvidarse de su nombre,
como si nunca hubiera entrado,
como si nunca la hubiera conocido o tocado.

Hoy si quiero ser un poeta,
un elucubrador de paisajes nuevos,
enfrentarme al auditorio ausente y silencioso
de las palabras esquivas y hacerlas carne,
sangre,
aliento,
voz de mi voz
y gritarle a la vida:
Salva a Inés!
Vívela!
Dale el camino!
Ábrele las puertas de lo hermoso!
Sóplale en el alma!
Y entra en su cabeza despacio,
sin prisa y sin tiempo,
para que pueda sentirte,
para que pueda sentirse
y dar sentido así a las flores,
a los pájaros,
al aire,
a la poesía,
a este poema,
y a este poeta.


¡Oh amor, a donde mi vida va a morir
tras haber vivido en ti lo bien amado!
¡Oh amor que yo olvido encantado
cuando a tu lado comienzo a vivir!

¡Oh amor en la boca del amado,
en su mano tierna y estremecedora!
¡Oh amor redentor del pecado
del mayor pecador de la historia!

¡Oh amor! en tu sueño me duermo,
en tu voz mi voz es escuchada,
en tu calor mi calor yo despierto
y solo quiero estar pronto muerto

y tenerte ¡Oh amor! en mi palabra.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010












Quando eu era famoso,
via passar um barco que nunca passava,
eu era o cais e todos os navios que lhe chegavam,
para depois,
partir de mim levando-me,
ficando eu amarrado ao que nunca soube.

Não há nada como não ser sendo,
como não saber sabendo,
não há nada como a experiência poética livre,
que não precisa de sentir-se único,
que não necessita ser parte de mim,
que nem sequer tem que ser eu,
mesmo que o seja.







segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Entro no ar,
respira-me,
subo às nuvens,
jogam comigo,
o mar não o entende e a terra,
assombrada de mim,
deixa-me ser eu sem ela um bocado.

Vôo,
vôo sempre que vôo,
seja pouco ou muito,
seja alto ou baixo,
seja quarta ou domingo,
vôo por todos aqueles que não podem voar,
incluindo-me a mim proprio.
















quinta-feira, 29 de julho de 2010


Vi a María de Lourdes entre os carros.

Não sabia nada dela,
nem sequer sabia que via a María de Lourdes.

Falamos um bocadinho os dois.

Depois os dois calamos.








Como las piedras que salpican un camino,
piedra sola que habla de ser piedra,
pero que son en comunión el recorrido,
la trayectoria que construye la vereda.

Como las partes de un rompecabezas,
que son independientes y exclusivas,
pero al lograr juntar todas las piezas,
consigues entre todas cosas vivas.

Así escribo de mí, de lo que aún soy,
buscando más de mí para ser todo,
piedra y pieza, partes en las que voy,
camino vivo que mis pasos andan hoy,
para ser yo, entero y a mi modo.


Passa um comboio contra o vento,
contra todo o vento um comboio.
rotundo, poderoso, convencido.

Atravessa-o continuamente,
a cada metro,
a cada campo que deixa no seu lugar ao passar,

E tudo morre a seu passo,
o tempo que atravessa,
os momentos que sacude,
as meninas sorrindo na estação
o voo do pássaro, que nunca voltara a ser o mesmo voo...

Todo menos o vento,
que passa pelo comboio e por tudo
como se fosse a vida,
como se nada existisse.



Estação do comboio de O Porrino (Espanha)



Afranio dice:



Yo no quiero morirme si al morir,
mi cuerpo y mi alma no se mueren,
si en la tierra lo que soy se ha de pudrir
conmigo a mi alma yo quiero que la entierren.

Yo no quiero vivir sin agarrarme
con mis ojos, con mi pecho, con mi boca,
al abrazo de tu cuerpo entre mi carne,
o a sentir tu piel cuando me toca.

Y no quiero morir y que mi alma,
quede vagando entre tus manos, sin sentido,
buscando en tus olores lo perdido,
sin encontrar en tu ombligo dulce calma.

Yo no quiero morirme si al morir,
no muero del todo y para siempre
y juro que solo así me habré de ir
y que solamente así quiero vivir,
con alma y cuerpo metidos en un vientre.


Y después Afranio calla,
porque está vivo todavía.



segunda-feira, 31 de maio de 2010




















No diré que lo que escribo es lo que más siento,
soy el colibrí de la palabra,
el que vuela marcha atrás.
Porque los sentimientos más sentidos
siempre están fuera del cáliz del alimento,
flotando en el aire que vuelo,
a donde nunca llegará la palabra.





Não direi que o que escrevo é o que mais sinto,
sou o colibri da palavra,
o que voa marcha à ré.
Porque os sentimentos mais sentidos
sempre estão fora do cálice do alimento,
flutuando no ar que vôo,
a onde nunca chegará a palavra.









terça-feira, 25 de maio de 2010






Enquanto espero à vida,

enquanto a procuro,

enquanto a vejo passar por mim,

enquanto envelheço em todos os idiomas,

em todas as palavras escritas,

em todas as que nunca escrevo,

naquelas que conheço

e nas quais ignoro,

enquanto tudo isto acontece,

a vida não espera por mim,

não me procura,

não me olha,

vai-se.


E eu,

que o sei e que o digo,

morro a cada dia um pouco

nesta verdade que conheço,

que admito,

que vive em mim

e que eu ainda não sei como evitar,

que eu ainda não sei como esquecer,

que eu ainda lembro

e que lembra-me que continuo vivo.









quinta-feira, 13 de maio de 2010

















Enquanto não cante do meu,
enquanto minha voz seja a doutro,
continuarei cantando.

Quando cale,
quando o meu seja meu
e não tenha saudade de quem sou,
então,
serei a felicidade de ser
e deixarei de ser homem,
serei então o poeta.









quarta-feira, 28 de abril de 2010



















As coisas que eu acho mais conmoventes,
estão todas feitas de mim proprio.

A cegueira,
a respiraçao dum pássaro,
um poeta chorando,
o infinito...
no que também irei.









terça-feira, 27 de abril de 2010


















Um chines joga basket
à uma e meia da madrugada em Benfica.

A globalizaçao dá nestas coisas.

Mais ao dia seguinte,
enquanto eu escrevo issto numa esplanada
dum café de Lisboa,
passa diante de mim um morto
tradicional portugués,
na sua caixa coberta dum pano
de tecido vermelho,
rodeado por um cordão dourado.

E a mim entram-me desejos
de cumprimentar os farois,
de ser uma parte de Fernando Pessoa,
de que o mundo me deixe tranquilo
e deixa-lo também eu assim.








segunda-feira, 26 de abril de 2010


















Ontem,
pela Estrada de Benfica,
vi poemas que vinham.

Ontem era Domingo,
25 de Abril
e o sol acendia Lisboa.

O sol já era um poema,
Lisboa era outro,
as pedras polidas do passeio eram muitos,
cada pessoa que caminhava levava um dentro,
as que não caminhavam também,
os carros que não passavam construíam o seu sem sabê-lo.

Havia poemas de cores,
poemas a preto e branco,
e pretos,
e brancos,
poemas aguardando dormidos,
poemas que acreditavam neles,
poemas cansados de ser poemas,
poemas nas janelas fechadas,
nas portas dos cafés que abriam...

Os poemas deslizavam-se pelas mihas mãos,
entravam-me nos olhos,
introduziam-se nos meus ouvidos,
faziam que os respirasse.

Poemas por todos os lugares
e em todas as coisas.

Depois,
o dia passou sobre Lisboa,
e ao entardecer,
quando o sol ia-se pela foz do Tejo
e eu o via desde Cacilhas,
fotografaram-me ao teu lado.

Que lindo poema então a vida!
Quando o sentido das coisas encerra-se num sorriso,
quando as palavras se vão com o sol a procura doutros poemas
e eu esqueço tudo na tua boca.








sexta-feira, 23 de abril de 2010



















Para ÁNGEL GONZÁLEZ


Para que eu me chame Afranio do Amaral,
para que meu ser não pese sobre o solo,
foi necessário um estreito espaço
e um curto tempo.
Nem homens, nem mar, nem terra,
nem férteis mulheres, nem corpos
que somente fundam outros corpos.
Sombras e escuridões iluminaram,
com sua única luz, seu céu preto,
a viagem instantâneo deste espírito,
trepando-me a alma ossos adentro.
De seu ficar lento e doloroso,
de seu vir até o início, sobrevivendo
à carne, aferrando-se ao que calam os mortos,
eu não sou mas que outra incerteza,
a semente que não cresce, perdido,
entre os restos,
isto que não vêem aqui,
tão só isto:
um entulho, que não se resiste
a sua ruína, que voa fora do vento,
que avança por caminhos que não existem
em nenhum lugar.
O fracasso de todos os sucessos.
A enlouquecida força do desalento.







quarta-feira, 21 de abril de 2010







Porque eu conheço-te nua,
meu corpo desobedece-me.

Já não quer subir-me às montanhas,
nem banhar-se nu no río,
nem dormir à sombra das árvores,
nem ver desde ali os pássaros inexplicáveis que voam.

Meu corpo somente quer o teu e eu,
que vou dentro dele,
unicamente quero que meu corpo te encontre,
nua,
como eu conheço-te,
que meu corpo desobedeça-me,
para sentir no teu o que ele nega-me,
aquilo que somente nossos corpos nus podem dar-nos.






terça-feira, 13 de abril de 2010

















Tantas vezes dei-te o meu silencio!

Tantas invoquei-o aos gritos,
chamei-o com tantas vozes,
com tantas bocas falei-o
e calei-o com tantas outras!

O silencio que me vive no corpo,
o que foge de mim pelos meus dedos longos,
aqueles que o derramam nas carícias que calo em ti,
o silencio que me fica adentro dos olhos,
esses que o recolhem quando foge para não perde-lo.

O meu silencio quedo,
pessoal,
intangível,
transparente,
o silencio que eu sou
e que nem sei dizer,
nem calar,
nem escrever.

Este silencio que agora escuto.







terça-feira, 6 de abril de 2010



















Sofro muito com a poesia,
o pior é que não sei onde me dói.



























Convido-vos ao lançamento do meu primeiro livro,
lançado à transparência do ar que o forma, o leva e o esquece,
à levidade intangível e invisível do vôo dos pássaros inexplicáveis,
à singeleza da alma que frota e desaparece entre asas,
lançado desde uma pele que mal sussurra o sentido.

Convido-vos à criação deste silêncio,
à intimidade da palavra verdadeira,
a não dita, a gritada sem voz mas com eco,
aquela que é escrita com a verdade,
com uma caneta sem tinta sobre uma névoa blanca.

Convido-vos aos poemas da cada dia,
os que falam do sucedido,
do que nunca sucede
e do que acontecerá,
na busca inútil e infinita de falar em presente.

Convido-vos aos poemas do estranho,
poemas do que um (que sou eu e não)
acha que poderia ser certo,
que poderia inclusive ser.

Convido-vos à sinceridade do vento,
à quietude da calma,
à fragilidade e nitidez do cristal,
à incerteza da viagem,
à certeza da falta delas
e às lágrimas desta dor.

Convido-vos ao lançamento do meu primeiro livro,
do meu último livro,
do meu único livro,
que é este que não vêem,
este que não lerão nunca,
que somente eu escrevo e que ninguém jamais publicará,
porque ele morrerá em mim e eu nele,
bêbado eu de uma sobriedade absoluta,
que não vendo nem venderei por nada.









segunda-feira, 29 de março de 2010



















O mar cai aos meus pés,
branco, azul e verde,
monotonamente,
vazio,
sempre diferente,
sempre o mesmo mar.

O mar é o que tenho agora,
o seu nome,
a sua espuma nas rochas,
o seu eco infinito nesta costa contínua e interminável.

Sou eu e é o mar,
e não tenho nada mais,
nem me tenho a mim próprio,
nem sequer a vontade de ser tenho,
nem sequer a vontade do mar.

Um pássaro inexplicável passa,
atravessa voando o mar que não tenho em mim,
esse mar que é tudo o que tenho agora
e pousa neste poema que vai-me caindo aos pés
e que o mar que cai aos meus pés se leva.







sábado, 27 de março de 2010







Afranio diz:



Magoa-me esta escrita,

que vai desfiando-me a memoria da vida
entre as minhas palavras mortas.

É um exercício doloroso,
silencioso,
transparente,
sem corpo, nem abrigo, nem fim.

Morro da dor da que vivo,
rodeado da natureza das letras
e da sua pétrea e fria mentira.

E depois Afranio cala,
cal,
ca,
c,
,
.


quinta-feira, 25 de março de 2010



















Queimo meu último cartucho todos os dias,
queimarei todos os dias meu último cartucho,

até que meu último cartucho coincida com meu último dia.








segunda-feira, 22 de março de 2010

EN EL DÍA MUNDIAL DE LA POESÍA







Pese a ser una voz que no se escucha,
un llanto clavado al silencio,
una sonrisa anclada al fondo del mar,
un pájaro de papel,
pese a no ser ni tan siquiera voz,
mi palabra me va diciendo muda,
ella me va escribiendo,
abriendo a paladas mi tumba,
cavando cada día más profunda mi fosa,
donde he de morir aún más todavía,
eternamente,
fuera ya de este grito y esta ausencia,
que tanto dolor va callando.

La poesía es una hija de puta
y yo soy su puta madre.








quarta-feira, 17 de março de 2010


















Esta noite sonhei um poema,
flutuava em minha voz dormida,
voava na levidade dos meus olhos fechados,
deslizava limpidamente entre os dedos das minhas mãos abertas,
denso e subtil como uma nuvem branca,
intangível e etéreo como a pluma da asa dum arcanjo.

Esta noite sonhei um poema do qual fugiram as palavras,
um poema que minha voz calou para sempre,
despojado de letras, leituras e leitores,
expatriado do escrito e o vivido,
abandonado do surdo mundo que tudo o escuta.

O poema que sonhei esta noite era tão verdadeiro,
que ao despertar-me não pude inventá-lo.

Esta noite sonhei um poema vazio,
vazio até do meu silêncio.

























Ontem visitei a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Numa parede da fachada pude ler num grafíti:
“A natureza não é onde se tiram ferias”

Hoje visitei a praia de Valadares.
Numa nuvem do céu pude ler num instante:
“A poesia não é onde se escrevem palavras”






terça-feira, 16 de março de 2010



















Sou excepcional,
tão diferente
e tão original,
que sou igual a ti.



Desde a minha humilde excepção, acredito na imprescindível necessidade das excepções na escrita.

Assim, todas as regras conhecidas partiram de excepções desconhecidas para chegar a ser regras.

O mau disto, é que as regras são os fagócitos das excepções.

O bom, é que o nascimento de qualquer regra provoca imediatamente uma grande revolução de excepções.

Tudo isto (portas que se abrem e se fecham) é tão óbvio, tão comum, tão tópico, que quase transformou-se em uma regra.







segunda-feira, 15 de março de 2010





















Os livros de poesia são muito pequeninos,
estreitos,
levezinhos,
flutuantes,
aéreos,
e quase transparentes.

Eles não têm apresentação,
desenvolvimento,
nem conclusão.

Nem os de Poesia Completa estão completos e,
as vezes,
ate carecem de palavras.

Igual do quem os suporta,
dito em todas as suas acepções.























Nadie habla mi idioma y solamente yo lo habito.

Mi identidad se resiente de eso,
porque sólo yo me digo,
porque sólo yo me escucho
y yo no sé quien soy todavía.

Vivo en esta supuesta conjetura hipotética,
hablando con todos de nada,
escuchando nada de todos,
tan perfectamente destinado a morir como estos versos,
que unicamente yo escribo,
como si yo fuera tú,
o al contrario.





Ninguém fala meu idioma e somente eu o habito.

Minha identidade ressente-se disso,
porque só eu digo-me,
porque só eu escuto-me
e eu ainda não sei quem sou .

Vivo nesta suposta conjectura hipotética,
falando com todos de nada,
escutando nada de todos,
tão perfeitamente destinado a morrer como estes versos,
que só eu escrevo,
como se eu fora tu,
ou ao contrário.









sábado, 13 de março de 2010



















Eu escrevo com uma profundidade superficial.

A tinta afunde-se e entranha-se no papel,

mais só acima dele pode ser lida.








quinta-feira, 11 de março de 2010





















Fumo palavras ao longo do dia,
perto de dois maços
e sei que fumar mata.

Também bebo muitas palavras,
se calhar repetidas
e sei que beber com moderação
é a minha responsabilidade.

Sou pré diabético
e não posso comer palavras doces,
mais alguma também cai as vezes.

Os cafés entram em mim
cheios de palavras com adoçante.

Falo também palavras,
ossos do corpo,
sangue menstrual,
pele defensiva.

Falo-as como as falo ao escrevê-las,
e escrevo-as como se as falasse,
falo nelas como eu,
existem em mim para ser.

Assim,
sou todos os aviões e o aeroporto ao que chegam,
para depois partir de mim,
levando-me.

E no fim do dia pergunto-me
Qual é o meu grande pecado?
e respondo-me que nenhum,
que eu sou apenas um,
o que eu sei que sou.

E adormeço em meio de sombras e claridades,
amando-me,
amando-te,
falo,
símbolo da fecundidade da natureza,
já sem palavra nenhuma.